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Dedicados

Trilha das margaridas

Há tanto que eu queria te contar sobre esses seis meses sem você…

Mas você deve saber de tudo…

O importante é que estamos todos tentando colocar em prática o que você nos ensinou:

Que a vida continua, que sempre haverá um motivo pra comemorar, que os detalhes são importantes, que devemos permanecer juntos e que o ciclo da vida acontece e continuará acontecendo independente do amor que nos une.

Nos descobrimos mais fortes do que imaginávamos, mas sua presença continua mais viva do que nunca. Claro que tenho muuuuuuuuuuitas (como diria o Breninho) saudades, mas só penso em você com alegria, com a certeza de que temos que continuar, como você gostaria.

Ainda olho pela janela, todas as noites, buscando a luz acesa do seu quarto…

Já estamos pensando nos preparativos do Natal. Tenho buscado alguma receita especial para a entrada, do jeito que você fazia. Decidimos enfeitar a árvore com dourado e margaridas… São mais duas crianças nesse Natal e elas têm que saber o quanto essa data é importante para todos nós.

A Beatriz teria adorado ter conhecido a bisa e, provavelmente você teria colocado nela todos os laços do mundo. É incrível como todos dizem que ela se parece com você…

Hoje, vou abrir o piano e quem sabe tocar a “Sonata ao Luar” quando escurecer. Sei que você gostaria.

Sabe, é interessante como tenho encontrado margaridas em todos os lugares e quando as vejo só consigo sorrir. Foi então que eu percebi o que você deixou de mais precioso pra mim: uma trilha de margaridas por onde eu pudesse caminhar admirando a paisagem, aproveitando cada minuto, fazendo aquilo que gosto na companhia de quem amo, sonhando e realizando porque – você tinha razão, mãe – a vida é linda!

Eu te amo!  (20/09/2013)

Dia dos Pais

 

Glorinha Calil diria que ele é chic!

O menino que queria voar – meu pai – é uma daquelas pessoas adoráveis, dono de uma elegância natural. Adoro ouvir suas histórias sobre suas viagens, sobre seus amigos, sobre a minha mãe. Com uma cultura de quem foi atrás, todos os dias me ensina alguma coisa. Metódico, cumpre seus horários com pontualidade britânica e jamais dispensa a “siesta”. Formal, dono de uma voz potente só conhecida por alguns poucos que já o ouviram cantar, tem uma dicção perfeita e uma fala mansa. Simples, atende prontamente quando lhe solicitam algum favor. Nesses últimos meses, tornou-se mais do que pai. Assumiu as funções que foram de minha mãe. Tomou o comando, ouvindo e aconselhando filhas e netos. Coordena reformas, orienta a cozinha, virou também um “dono de casa”. Cuida de sua saúde, tem uma alimentação saudável e nunca recusa um convite para um bom restaurante. Não tem voado como antes, mas continua fascinado por aeronaves. Assiste admirado às gracinhas do bisneto Breninho e aguarda, ansioso a chegada da Beatriz. Meu pai é assim… Tentando se reinventar depois da partida da minha mãe, porque como ela, ele acredita que a vida é linda! E nos proporcionou a vida linda que temos. Pai, nós te amamos! Muuuuuuuuuito! (08/2013)

Bruno, 31

Bruninho Höera, meu querido filho… Há 31 anos, seu pai e eu fomos sozinhos pra maternidade. Nossa vontade era ter sossego, longe de todos, para o seu nascimento. E vc chegou, para renovar, junto com a Thais e depois com o Alex ,todas as nossas esperanças. Vc, que puxou o lado germânico do seu pai e meu gênio mais do que espanhol. Que sempre lutou pelos seus direitos e nunca levou desaforo pra casa, sempre nos surpreendeu. Vc é uma das 3 obras de arte que criei.
Se eu pudesse resumi-lo em uma palavra, ela seria CRIATIVIDADE!
Que Deus mantenha sua luz, mesmo que nem todos possam vê-la. Que Deus mantenha esse seu jeito família, mesmo que vc escolha estar distante. Que Deus te dê um pouco mais de paciência porque, com certeza, seu grande momento em breve chegará. Gostaria que vc fosse criança pra sempre, porque é muito difícil ver um filho voar. Mas meu acalento é saber que vc sempre encontrará o caminho de seu ninho.
Feliz Aniversário! Te amo demais!  09/08/2013

Escamas

 

(Para Marcelo Tomazini – ouro – Jogos Panamericanos/1999)

           
Dizem que água é coisa de peixe. E que, quem fica dentro da água por muito tempo, acaba criando escamas. Mas estar dentro da água é fazer parte de uma magia…
Antes mesmo de nascermos, a água nos envolve. Nosso corpo é feito de água. Com água nos limpamos e saciamos a sede. A qualquer esforço, o suor. Mais água. Nas emoções, as lágrimas. Até mesmo a natureza se renova com água… da chuva. É mesmo um mundo muito molhado…
Então não venha com essa de que nadar é se envolver com um elemento que não faz parte da natureza humana.
Agora, competir? Isso sim faz parte de todos nós, pobres mortais. A vida é ua competição. Mas, antes de vencer é preciso treinar…
Quando se nada, assim “na boa”, principalmente sozinhos, a gente é quase capaz de ouvir os segredos que a água e as bolhas têm para contar. É quase como que voltar para uma vida antes da vida… Se bem que na hora de treinar, o que se escuta mesmo são os berros do treinador!!!!
É muito interessante como a audição pode ser seletiva e a teoria da relatividade é quase compreensível…
Na hora de competir, apesar da barulhenta participação da torcida (leia-se pai, mãe, avós, namorada, amigos, vizinhos, cachorro, papagaio), nada se escuta além do essencial. O sinal de largada, a água entrando nos ouvidos, o coração batendo forte, rápido. Então, o tempo “dá um tempo”. Anda bem devagarinho e uma forte sensação de que ele não passa, toma conta da gente por uma infinita fração de segundo até que começa a passar depressa demais. É a hora de lutar. Lutar contra o tempo, contra qualquer adversário, lutar para vencer a si mesmo. Ou se alcança o sonho, ou é preciso sonhar um pouco mais.
Li em algum lugar que vencer não é coisa de momento, é coisa de sempre. Infelizmente, perder também. Mas só um fracassado é capaz de admitir que perdeu. Porque quem nasceu para vencer, acabará aprendendo muito, mesmo na derrota. Então a derrota de transforma numa grande vitória.
Imagine-se nesse mundo aquático, azul, infinitamente azul. Onde cada movimento parece estar em câmara lenta, onde a luz distorce, se distorce e cria formas dançantes, num ballet até etéreo que traduz a geografia muscular numa pintura surrealista. É simplesmente mágico. Viver nesse azul é admiravelmente mágico…
Desejo que, ao final de cada competiçao, de cima de um pódio, você possa estar apreciando este mesmo azul tremulando. Tremulando ao lado do verde. Tremulando ao lado do amarelo…

 

Um beijo para Raquel

 

Quando uma mulher perde seu marido ela é chamada de viúva.

Quando perdemos nossos pais, ficamos orfãos.

Mas não existe uma palavra para se chamar a mãe que perde um filho.

É uma dor inimaginável que estilhaça o coração, faz desaparecer o chão sob os pés transformando a realidade num pesadelo interminável. Nada que se possa falar servirá de consolo. Apenas o abraço e o silêncio.

Ah, minha amiga! Quisera eu poder amenizar esse seu sentimento…

Fale… Conte todas as histórias dele… Das gracinhas da infância às atitudes que tanto fizeram você se orgulhar…

São esses momentos que você deve cultivar, na certeza de que os trinta anos que vocês conviveram nessa vida fizeram a diferença. Ele ensinou a você o amor incondicional, foi o resultado de partilhar o milagre da criação com o próprio Deus que agora o chamou de volta.

Sabemos que havia ainda tanto a ser vivido e realizado, mas esse tempo foi o suficiente para que ele realizasse aquilo para que veio.

Sei que dói muito e que você gostaria de abraçá-lo, de tê-lo em seu colo.

Hoje, nós é que vamos abraçá-la e tantas quantas vezes forem necessárias, vamos carregá-la no colo para que sua jornada possa continuar. Ele sempre estará vivo em seu coração e, certamente, um dia vocês se reencontrarão.

Um beijo no coração…

Natal de vó

 

Natal é aquela coisa família, oportunidade anual de encontrar os afastados tios, tias e primos. E além do Papai Noel, nada é tão gostoso como a presença da avó. Mesmo porque a vovó paparicou os netos o ano todo e agora tem que encerrá-lo com chave de ouro. E ela se esmera nos enfeites, nos presentes, na decoração (feita de coração) e na comida…

Minha avó Ida teve 3 filhas e 12 netos. Claro que foram chegando aos poucos, mas os Natais eram sempre divertidos. Cada neto se regalava com algum quitute que ela preparava especialmente para ele (um gostava de pastel, outro de rabanada, outro ainda de torta de frango e assim por diante). Os presentes, comprados nas lojas do Baú da Felicidade, eram fruto da troca de um monte de carnês que ela pagava religiosamente em dia. Pura diversão. Meus primos Yolanda e Sérgio vinham de longe – Brooklin (nós estamos em Santana). E por incrível que pareça (ela adorava essa expressão embora dissesse: – Incrível que parece!) era longe mesmo?

O tempo foi passando… os netos cresceram, casaram, tiveram filhos e a vó Ida  mudou para um apartamento pequeno. Não cabia todo mundo e apesar de cada um ainda ter seu quitute predileto, era preciso marcar hora para poder visitá-la. As 3 filhas, agora também avós, iniciaram cada uma a sua tradição de Natal e dificilmente estávamos TODOS juntos.

Dona Ida morreu nas primeiras horas de um dia 24 de dezembro e conseguiu ter suas filhas, genros, netos, bisnetos e “agregados” TODOS juntos, mesmo que fosse para enterrá-la. E se você pensa que os Natais seguintes foram tristes, está enganado. Ela não deixaria. Talvez tenham ficado mais saudosos.

Na noite deste mesmo 24 de dezembro, munida de seu maior espírito de avó, minha mãe não permitiu que seus netos deixassem de ter seus presentes sob uma árvore maravilhosa. Mesmo sem a alegria contagiante de sempre, minha mãe reuniu suas 3 filhas, genros e netos e assim continuamos a fazer por mais esses tantos anos.

Ano que vem eu já serei avó e talvez possa entender um pouco mais esse sentimento.

Natal é um momento de família, mas principalmente de avós e netos!

(para minha avó Ida)   2010

À Sua

 

Parecia que eu tinha voltado à infância… Só que vinte e cinco anos depois. Para onde quer que eu olhasse, observei, escondidos sob figuras mais velhas, rostos conhecidos e acolhedores. É claro que muito tristes por estarem se reencontrando nessa situação. Quase podia sentir o cheiro das brincadeiras da rua ainda poeirenta e a maciez das mãos dadas escondidas…

Traduções de John Lennon, enquanto se cortava e socava o limão, faziam as manhãs de domingo mais preguiçosas, principalmente quando a véspera era marcada pelos bailinhos da turma…

Numa familia com predominância levemente matriarcal, ele era sinônimo de estabilidade. Gostoso saber que evoluiu profissionalmente e pode, com o passar do tempo, realizar o sonho familiar da casa enorme, com um quarto para cada um. E olhe que eram cinco filhos. Homem, no sentido absoluto da palavra, com suas imperfeições, mas acima de tudo dono de um carisma inigualável.

Lembro que entristeceu quando anunciei meu casamento assim, tão prematuro. Mas também me lembro de sua satisfação ao saber que a primeira visita que minha filha fez na vida, era para eles.

Com um pouco de esforço, posso ouvir as risadas, as broncas, o improviso ao piano que antes ficava na casa da filha. Posso até vê-lo dançando nas festas de aniversário. Sempre com um copo na mão, casa cheia. De amigos, de amigos dos filhos, de amigos dos amigos dos filhos.

Hoje, estavam quase todos ali. Alguns eu nem conhecia. Os filhos, genros e noras, os netos, os amigos, os amigos dos filhos e os amigos dos netos, os agregados. Gente que, acima do parentesco ou da amizade com os filhos, passou a ser amigo dele e por essa e só essa razão, estava lá.

Richard Bach não chamaria de acaso ligar o rádio e ouvir canções de minha adolescência enquanto acompanhava o cortejo rumo ao crematório. E então, ao som de músicas que certamente ele teria aprovado – o bom gosto musical sempre foi sua marca registrada – pudemos fazer nossa última, ou melhor, nossa penúltima oração.

Antes de ir para casa, uma parada na lanchonete, onde por várias vezes nos encontramos. Uma caipirinha para ajudar a lembrar os tempo tão bons e, por que não, dar umas boas risadas.

Dizem que nada nem ninguém morre enquanto nos lembrarmos. E isto, com toda certeza, se aplica a este caso. Um brinde!  À sua, tio Paulo! Onde quer que você esteja!

(para Paulo Roberto V. de Toledo – 21 de abril de 1998)

Meio de Semana

Tarde ensolarada, meio de semana e a vontade de ficar por ali, simplesmente vadiando…

No entanto, nada como ser criança e ter criatividade. A criançada se reune. Som de vitrolinha mesmo e a empregada fazendo pão com manteiga, pipoca e ki-suco. A tarde preguiçosa vira bailinho. Assim, ouvindo o mesmo “compacto simples” repetidas vezes, cada par dança despreocupadamente na varanda…

Uma vizinha sobe a rua e observa a turminha se divertindo. Chegando ao seu destino, o cabeleireiro, comenta:

– Está acontecendo um baile na sua varanda…

– Na minha varanda que acabei de encerar? – disse a tia Yvonne, incrédula.

E lá veio ela. Bobes prendendo os cabelos e um pé de chinelo nas mãos.

Os meninos trataram de sair correndo sobrando para nós, meninas, a árdua tarefa de reencerar a varanda.

Tarde ensolarada, meio de semana e a vontade de ficar por ali, simplesmente vadiando…

Agora todas nos encerando…

(para Yvonne Kocoureck de Toledo)

Co-autoria

 

Dissolve do teu olhar qualquer vestígio de tristeza e ensaia teu melhor sorriso para o que Deus te reserva. Aproveita bem tuas noites de sono, pois provavelmente, serão teus últimos sonhos dentro de um sono pesado. Busca lá no fundo de tuas memórias aquelas canções de ninar e, sem "enxuxá-las", recorda-as e atualize-as com pureza. Presta atenção em teus cabelos, em tua pele, teu corpo todo. Logo, haverá uma metamorfose que te tornará parceira de Deus no milagre da criação. Assim, se desejares, se realmente desejares do fundo do teu coração, os anjos que te rodeiam te concederão aquilo que alguns consideram um fardo e eu chamo de DOM:

A tão sonhada MATERNIDADE!!!

(para Claudia Helena)

19 ANOS

 

Mais uma noite e você dormindo ao meu lado. Os anos passaram e já não somos mais crianças. No entanto, continuamos “still crazy after all these years”. Dezenove anos depois, muita coisa mudou. Um bigode bem cuidado e uma barba espessa substituíram os cabelos louros que foram se perdendo com o  passar dos anos. Em volta dos olhos, as marcas que o tempo foi deixando e, nós aqui. É interessante constatar que você envelheceu e, é claro, eu também. Mas como é bom perceber tantas diferenças estando um ao lado do outro. Não sinto saudades de quando éramos mais jovens, sinto orgulho doi que somos hoje. Fomos dois, agora somos cinco. Temos aquilo que fomos buscar e, embora pareça pouco, aí está o melhor de nós. Ainda um tanto inseguros quanto ao futuro, pulando degraus que deveríamos ter subido um pouco  mais devagar, estamos aqui, um em dois, dois em um.

Dorme Paulão, dorme. Se bem que você poderia roncar menos. Dorme Paulão, dorme. Amanhã é dia de branco, temos que trabalhar e muito que envelhecer.

Para o Paulão (1997)

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