Karate

Pronto... falei!
Há cerca de quinze dias tive a oportunidade de arbitrar num evento da Zenbu-kai (Sensei Shigeeda). Um dos atletas fez um comentário muito simpático a meu respeito no Facebook que me fez pensar… Talvez seja a hora de falar…
Como todos sabem, não tenho lá o perfil físico para atleta e encontrei na arbitragem a maneira perfeita para contribuir para a divulgação desse esporte que é a minha paixão. Deixei meu emprego e investi tempo e dinheiro para me capacitar.
Sob a orientação de Wladimir Romic (que estudou comigo e tirou todas as minhas dúvidas teóricas) e Takashi Shigeeda (que me orientou na parte prática), além claro, de Dona Mirtha e outros tantos mestres e colegas fui crescendo dentro da arbitragem e consegui meu credenciamento como judge panamericana (agosto de 2007).
Desculpe minha falta de modéstia, mas sou a primeira e por enquanto a única mulher brasileira a ter conquistado esse título.
Mas, como vivemos em terras tupiniquins onde a arbitragem parece seguir os preceitos de nossos governantes, fui colocada de lado.
Sequer tive “uma” convocação para arbitrar para campeonatos brasileiros.
Nosso diretor de arbitragem jamais teve alguma atitude elegante comigo. Mas eu insisti e por diversas vezes paguei (transporte, hospedagem e, pasmem, 6 ou 7 cursos de credenciamento – após o panamericano) para arbitrar.
No início do ano passado, após um desses cursos de arbitragem que nos atualizam a respeito das fofocas do jet set da WKF, tive a oportunidade de colocar minha insatisfação, na presença de colegas, dirigentes e o próprio diretor de arbitragem da CBK, e dele ouvi a promessa de uma convocação para o mês de agosto.
Como não vivo de karate e sou funcionária de uma empresa, negociei parte de minhas férias para esse período, ficando à disposição para o evento. Nada aconteceu. Mais uma vez fui ignorada.
Nesse meio tempo, observei a ascensão de árbitros sem o mínimo critério ou instrução, que mal sabem escrever seus nomes. E, convocados para os brasileiro…
Creio ter muito a oferecer a esse nosso esporte que busca sua inclusão nos Jogos Olímpicos. Sempre estudei muito, tenho a sensibilidade feminina, minha imparcialidade sempre me deu muita credibilidade e, minha dedicação em ensinar principalmente às crianças se dá pelo fato de ser mãe e avó e buscar em cada pequeno atleta, o esporte que valoriza o flair play.
É isso que me dá prazer!
O canal de tv por assinatura FUTURA me convidou para um programa chamado Meu Duplo, gravado em abril do ano passado e que foi ao ar em 10 de abril desse ano. O karate pautou o episódio e, pasmem, apesar da autorização da CBK e da Polícia Militar para a gravação do programa, sua excelência – o diretor de arbitragem, teve um atrito com fotógrafos e cinegrafistas, que em nenhum momento se aproximaram do koto onde eu arbitrava. É assim que se dá visibilidade ao nosso esporte? Criando barreiras? Ou é apenas disputa de egos?
O teaser do programa é com a minha voz:
A incerteza de ser o centro das atenções causa esse tipo de coisa. Que pena…
Sinto falta de competir com as veteranas… Não porque tivesse a pretensão de chegar aos pés delas, mas para superar a mim mesma.
Mas quando vejo o quadro de arbitragem, chego a pensar que poderia ter conquistado um lugar no pódio. Só rindo mesmo.
O quadro paulista de árbitros é privilegiado. Isso porque 60% deles realmente são árbitros. Mas até quando vão permitir que aqueles tendenciosos ou sem o mínimo conhecimento das regras e , sobretudo sem bom senso continuem a escolher os atletas que , futuramente representarão as cores de nossa bandeira?
Provavelmente vocês não me verão em campeonatos paulistas e, depois desse desabafo, muito menos brasileiros. Mas vão voltar a me ver onde começa o karate, arbitrando pequenos confrontos em competições sem tanto glamour, mas de onde surgem os grandes atletas. Não preciso de glamour… eu já tenho!
A minha parte vou continuar a fazer. E esses pequenos atletas, com certeza irão se lembrar daquela árbitra gordinha de cabelo loiro, que explicava a eles o que estava acontecendo. Esse é meu legado!
Pronto… Falei! (13/05/2013)
Pequeno guia de boas maneiras e elegância para árbitros
Introdução
Minha referência para escrever esse guia vem, basicamente, de meu pai.
Um homem elegante sem ser arrogante, formal sem ser pedante, de dicção perfeita e tom de voz adequado.
Com uma caligrafia perfeita, esse cavalheiro cujo caráter é invejável me mostrou que mais importante do que ter, é ser.
Em questão de comportamento e atitude, na dúvida, recorria a Marcelino de Carvalho.
(Leitura indicada: “Marcelino pro Claudia” de Cláudia Matarazzo)
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A aparência
Creio ser desnecessário escrever sobre o asseio pessoal. Todavia, algumas dicas são realmente importantes.
Atenção aos cabelos e unhas! Do mesmo modo que se exige do atleta, se exige do árbitro.
Se for seu estilo e tiver cabelos compridos, prenda-os de maneira adequada se isso for atrapalhar seu desempenho e mantenha-os absolutamente limpos. Também não se descuide da barba e/ou bigode.
É delicioso estar ao lado de um homem cheiroso, mas não exagere no perfume, ou o feitiço poderá virar contra o feiticeiro!
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O uniforme
O estilista que concebeu o uniforme estava correto (infelizmente deixou as mulheres de lado – isso dará um capítulo à parte).
As cores e o estilo estão absolutamente coerentes.
O traje deve estar em harmonia com seu biótipo. Apesar de todo homem ficar elegante com blazer/paletó, as proporções devem ser mantidas. O ideal seria ter um sob medida, feito por um alfaiate. Como isso nem sempre é possível, aqui vão algumas dicas:
– O comprimento deve ser avaliado de acordo com sua estatura. Se for alto, evite blazer/paletó curto. Se for baixinho, mais cuidado ainda. Não use blazer/paletó comprido ou ficará parecendo um anão.
– As mangas devem estar a altura do ossinho do punho quando os braços estiverem ao longo do corpo.
IMPORTANTE: O terceiro botão deve permanecer desabotoado! E quando sentar, desabotoe os outros dois sem arregaçar tudo!
Os sapatos devem estar engraxados e, um cuidado especial com as meias. Compridas o suficiente para que, quando sentado, não sejamos obrigados a observar canelas peludas. Sem ‘bolinhas’, por favor. E, em hipótese nenhuma, furadas. Você terá que colocar sapatilhas.
Nada a declarar sobre as calças, mas observe o comprimento adequado.
As camisas merecem toda a atenção. Brancas, não encardidas. O colarinho deve ser duro, de preferência com barbatanas. Colarinho virado para cima me faz lembrar da Noviça Voadora. Se você está usando gravata, o botão do colarinho deve estar abotoado! Nada se parece mais com bêbado em fim de festa do que colarinho aberto com a gravata tentando fechá-lo. Se não conseguir fechar o botão, mude o botão de lugar, compre uma camisa com o colarinho maior, faça qualquer coisa, mas não pague esse mico. É o cúmulo da deselegância.
A gravata é o toque final! Use a da sua federação/confederação. Se não tiver ou estiver ‘ensebada’ use uma gravata que harmonize com o uniforme. Marinho – pode ter diminutas “pois” ou listras finas em branco – cinza ou vermelho. Também pode ser vermelha ou cinza. Evite cores berrantes, pastéis ou tons de bebê. O nó deve ser de médio para estreito. O nó mais largo só é aceito se o colarinho for italiano. Prestem atenção ao comprimento! A ponta da gravata deve estar na altura da fivela do cinto ou você corre o risco de ser confundido com Patati/Patatá.
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O comportamento social
A etiqueta reza que um cavalheiro se levanta para cumprimentar uma senhora. Faça isso, não dói!
Não ignore os atletas que sorriem para você. Você não é Deus! Retribua o sorriso, também não dói!
Na execução do Hino Nacional, vire-se em direção à bandeira e cante! Você é um exemplo a ser seguido. Se não souber cantá-lo, aprenda!
Tenha paciência com as crianças – você já foi uma e também tinha muitas dúvidas (tem até hoje).
Ensine os pequeninos e, sobretudo, aprenda com eles.
Tenha paciência com os pais – coloque-se no lugar deles.
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A competição
Antes de iniciar os trabalhos, peça a Deus (ou a força na qual você acredita) que o ilumine para que realize um bom trabalho.
Procure conhecer seus colegas de koto.
Se houver árbitros iniciantes, seja solícito, oriente com humildade, corrija em particular e elogie em público.
Se tiver alguma dúvida, peça ajuda a um árbitro mais experiente.
Trabalhe em equipe, você não é o dono da verdade.
Respeite atletas e técnicos.
Você tem obrigação de conhecer o regulamento, então estude! Sempre!
Se o julgamento é subjetivo, que essa subjetividade não seja tendenciosa.
Lembre-se que a sua decisão, naquela fração de segundo, decidirá o futuro de muitos.
Mantenha o controle, principalmente o seu.
Sinalize/gesticule como se estivesse fazendo kihon. Você é um praticante de karate!
Seja claro em seus comandos.
Quando “central”, mantenha os dois botões superiores do blazer/paletó fechados.
Quando “bandeira”, desabotoe.
Comprimente seus pares ao final de cada categoria.
Tenha sua própria caneta.
Escreva de maneira compreensível. Se sua letra for feia, faça caligrafia.
Tenha seu próprio apito. Usar o apito alheio é tão desagradável quanto usar o protetor bucal de um colega.
Se você tem tendência a transpirar, tenha à mão uma toalhinha úmida.
Transmita segurança em todas as suas decisões.
E não se esqueça que o bom árbitro é aquele que erra menos.
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A etiqueta
O homem deve manter as boas maneiras dentro e fora do koto.
Um cavalheiro é um cavalheiro em todos os ambientes.
Então, lembre-se:
Uma mulher não se serve de bebida quando houver um homem à mesa. Portanto, sirva-a.
As mulheres têm preferência nos lugares reservados à alimentação. Então, ceda seu lugar.
Observe os ensinamentos básicos de sua mãe:
Coma de boca fechada.
Não abra as asas para se alimentar.
Limpe a boca, antes de pegar o copo.
Não masque chicletes.
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O caráter
Se você tem, parabéns!
Se não tem, não se preocupe. Você não vai conseguir ficar nesse meio por muito tempo.
“Antes de julgar, saiba que está sendo julgado.”
Saia da casinha! Mantenha a mente aberta…
Um bom dia é o dia em que aprendemos alguma coisa.
E há tanto a aprender…
Bjs
Aproveite as dicas do estilista Nando Lopez!
Clique no link:
http://nandolopezevoce.blogspot.com.br/2013/07/gravatas-nos-e-combinacoes.html?spref=fb
Iam I do
Não nasci para ser uma atleta. Até que tentei e tento até hoje…
Levei meus filhos para treinar no Clube Esperia e ousei experimentar. O karate tomou conta de mim como um virus. E me dei bem… Sonhei com a faixa roxa… Hoje sou faixa preta – terceiro dan… Trago na bagagem alguns títulos estaduais e um mísero quarto lugar num campeonato brasileiro. Mas isso pouco importa. Para continuar nesse ambiente tão apaixonante sem pagar mico, decidi mudar de lado do balcão. Assim, depois de uma longa conversa com Romic -meu Sensei e hoje árbitro mundial – (ao sabor de muito café e água com gás) acreditei que esse talvez fosse o caminho – ARBITRAR!
Regras complexas, visão, bom senso e treinar. Treinar, treinar, treinar, treinar e nunca parecia o suficiente.
Contei com a boa vontade da então secretária da Federação Paulista – Dona Mirtha – de quem me tornei motorista, a paciência de Sensei Shigeeda – hoje também árbitro mundial, e a cara feia de muitos árbitros que se perguntavam o que eu, com esse biótipo perfeito e ainda por cima MULHER, estava fazendo ali. Cheguei a arbitrar em 3 competições num único final de semana.
Mas eu queria ir mais longe… Árbitra estadual e depois de muitos kilometros rodados e horas de vôo por esse Brasil a fora (vamos esclarecer que tudo por minha conta e risco), consegui a classificação máxima como árbitra brasileira – REFEREE “A”. Tiveram que engolir os 100% que tirei na prova escrita e o respeito que os atletas têm comigo.
Passei um ano estudando, e quando digo estudando quero dizer ESTUDANDO MUUUUUUUUUUUUUITO! Em português, inglês e espanhol. Optei pelo espanhol.
Deixei meu emprego e depois de uma homenagem emocionante (só ai me caiu a ficha sobre a responsabilidade que carregava nesse desafio), alcei vôo – como um condor – aterrizando em terras peruanas em busca de uma classificação na arbitragem sulamericana. Numa turma absolutamente masculina mostrei minha superioridade. Desculpe a falta de modéstia, mas eu estava mais preparada do qualquer um ali.
Ok! Na minha primeira atuação como bandeira 1 (é assim que a gente começa), vi um sambon ( pontução máxima – 3 pontos) e o ângulo era só meu. Ou eu marcava – correndo o risco do referre não aceitar, ou amarelava. Levantei a bandeira com tamanha propriedade e convicção que além do referee considerar, me valeu um contusão no ombro direto que perdurou por mais de 6 meses.
Obs.: O café peruano é horrível! Os árbitros peruanos, cavalheiros!
Voltei para casa como a primeira mulher brasileira a ter credenciamento internacional (sulamericano). Dois dias depois da minha volta, fazendo banca num exame de troca de faixa recebi os cumprimentos do meu Sensei e fui aplaudida de pé. Foi a primeira vez que fiquei vermelha na minha vida.
Um mês e meio depois estava no Equador repetindo todo o processo porém com uma exigência maior era o Capeonato Panamericano. Mas, fui precedida da fama que conquistei no sulamericano e o chairman sabia, inclusive, meu nome: Subiane de Brazil! Quando recebi minha classificação não pude comemorar porque o único brasileiro que também estava nesse processo foi reprovado e, é claro, respeitei o momento.
Mas quando cheguei ao quarto do hotel, acendi uma cigarrilha, – especialmente comprada para o a ocasião – e abri as janelas, assisti a um magnífico espetáculo de fogos de artifício! VERDADE!!! Parecia que era para mim! JURO!!!!
Desembarquei em São Paulo às 6h da manhã de num domingo e um ardoroso fã me aguardava com um abraço muuuito apertado. Por debaixo de um pesado over coat, lá estava o Paulão com um enorme sorriso. Meu maior incentivador! Sabe, eu quase cheguei a ver e ouvir uma banda de música atrás dele. Afinal, eu era a primeira e por enquanto a única mulher árbitra panamericana de karate!
Depois eu conto as minhas aventuras até conseguir esse título…
Abaixo os emails que mandei na ocasião…
From: Suviane Hoera
Date: 5 Jul 2007 13:08:36 -0700
Olá a todos!
Esta mensagem tem como finalidade compartilhar com vocês o momento único que estou vivenciando…
Agora, que carrego o título e a responsabilidade de ser a primeira árbitra brasileira com credenciamento internacional, é tempo de uma pequena reflexão.
Gostaria que vocês compreendessem que apesar dos meus 46 anos e da minha forma física (redondo também é uma forma!) pude chegar aqui porque sempre contei com o apoio e a torcida de pessoas que me são muito preciosas…
Em primeiro lugar, agradeço a Deus por não me deixar esmorecer e manter minha saúde, aos meus pais Antonio e Daisy pelo exemplo de vida e amor, sendo os maiores responsáveils pela minha auto-estima – fator esse fundamental para que eu pudesse correr atrás de meus sonhos. Meus filhos, Thais, Bruno e Alex agradeço por nunca terem me dado trabalho permitindo assim que eu pudesse me dedicar à essa minha paixão – além de vocês, é claro (sorry pela ausência!). Não posso esquecer da equipe, dos professores e das meninas do ballet (brigadão Bárbara!) que sempre torceram por mim, assim como a própria Conceição Linares. Aos karatecas do Esperia – valeu pela torcida!
Obrigada, meu mestre Wladimir Romic por me avisar que não ia ser nada fácil e me ajudar a estudar! Obrigada minha amiga Mirtha por me fazer madrugar todos os sábados, me defender e acreditar que eu seria capaz. Obrigada Sensei Takashi Shigeeda pelo exemplo e pelos preciosos ensinamentos (a postura na cadeira me valeu pontos no exame prático!). Obrigada pelo incentivo, Magno e Panetta. Gracias pela ‘bolacha’ da CBK, Marco. E finalmente, aos amigos dos quais privei a minha companhia nas noites de sextas-feiras e que nunca se cansaram de ouvir como foi o último campeonato (pelo menos diziam: ah! ou humm! de vez em quando). A vocês, Cris e Paulinha, Laiz e Ricardo, Edu, Claudio Pascher, Orlando, Silvinho, Salvador e Maurício, Edileuza, Cris e Isaac, Glaucio (sumido mas presente) e a última, mas não menos importante – Silvia Raucci (iluminando a todos com seu olhar) que sempre foram incansáveis na arte de me mostrar que o esforço vale a pena, meu carinhoso beijo de agradecimento.
Finalmente, Paulão – marido, amigo, cúmplice e parceiro que nunca mediu esforços para que eu pudesse chegar lá – obrigada pelo abraço, pelo carinho, pelo amor, pela ‘massinha’ gostosa e pelo sorriso no final de cada dia.
O maior prêmio não é o título, é saber que tive com quem contar e sempre terei vocês ao meu lado.
Muuuuuuuuuuuito obrigada!
Domo arigato gozaimasu!
Carinhosamente,
Suvi
De: Suviane Hoera
Enviada:quarta-feira, 29 de agosto de 2007 18:08:35
Para:
Oi, pessoal!
Terminamos o exame prático às 12hs. Foi estressante porque peguei uma árbitra central bem ruim. O Panetta foi na primeira leva e eu na segunda. Quando terminou, sai pra respirar (vontade de vomitar, ir no banheiro, essas coisas), quando o Celso chegou. Extraoficialmente, veio me dizendo que eu devia uma camiseta adidas pra ele porque eu PASSEI!
O Panetta nao teve a mesma sorte. O Celso alegou que era a primeira vez dele, e essas coisas gentis que quem o conhece sabe o que estou falando. Bem, concluíndo, estou muito feliz porque realmente foi dificil. Amanha começa o campeonato e vou ter que mostrar serviço. Tenho vontade de chorar, mas preciso dar uma força para o Panetta que está muito frustrado. Continua frio! Errei totalmente na mala! Muitos beijos! Obrigada pela força!
Amanha escrevo de novo!
Romic- pode avisar o Esperia que nao quero mais pagar o clube!
Mirtha – agora vou ficar mascarada!
Shigeeda – valeu mais uma vez!
Family – I love you!!
Ser árbitro é fazer figuração…
A arbitragem é como um sacerdócio. Exige dedicação, estudo constante, visão periférica apurada, bom senso, ética e acima de tudo, bons parceiros.
O “referee” conduz o combate como um maestro. A sua conduta deve ser indiscutível. Os “judges” o auxiliam nessa tarefa.
O bom árbitro é aquele que erra menos e sobretudo, tem vontade de acertar.
Mas, ele só faz mesmo é figuração!
Voltar a arbitrar... adoro!
Estou afastada da arbitragem por dois motivos: tenho trabalhado demais (fins de semana) e estou sem carro (essa história vai dar um ótimo post).
Parece que toda vez que combino alguma coisa com Dona Mirtha (se você não conhece a Dona Mirtha então não sabe nada de karate!) acontece algo e não consigo ir aos campeonatos…
Arbitrar é um vício e está para mim assim como motociclismo está para o Paulão e voar está para meu pai…
E lá fui eu para o Ibirapuera de paletó e gravata de ônibus. Não só ônibus, como metrô e mais um ônibus. Mico geral já que todo mundo que utilizava esses transportes numa sábado estava de bermuda, rasteirinha etc.
Mas que delícia avistar aquele mar branco de kimonos, os kiaisde aquecimento e atletas se concentrando… Gostoso encontrar colegas cheios de sorrisos, abraços apertados e sempre um comentário carinhoso. Ótimo também rever técnicos competentes com quem se pode sempre aprender.
Preferi iniciar supervisionando as súmulas e, para aquecer, algumas categorias bandeirando. Quando me senti pronta, Shigeeda me colocou como central…
Sentir o tatame sob as sapatilhas, compreender a ansiedade dos competidores, assumir a responsabilidade de não errar, visualizar e dar o ponto. Assim me sinto viva… plena… dona de mim…
Dizem que sou cheia de caras e bocas e que é mais do que visível quando não gosto de um confronto, mas quando a luta é emocionante adoro marcar o ponto com empolgação, quase performance. É como se eu pudesse dizer: – Meu! que belo ponto! Inquestionável! Eu vi e todos viram! Valeu, cara!
Sou intensa. Não sei ser “blasé” (blasé = palavra francesa, adjetivo. Significa quem ou que demonstra apatia, indiferença ou tédio em relação àquilo que o rodeia – cara de paisagem mesmo). Talvez por isso não me senti à vontade em arbitrar kata. E para espanto da maioria dos árbitros, levantei o braço quando nosso “chairman” perguntou se alguém não se sentia preparado par arbitrar kata.
Acredito que ser capaz de avaliar detalhes tão pequenos (não de nós dois) de maneira subjetiva em uma seletiva é uma responsabilidade muito grande. Claro que sei discernir quem é o melhor, porém acreditei que as diferenças seriam ínfimas e que eu poderia até prejudicar algum atleta por meu despreparo. Preferi o banco.
Arbitrar é como ser solista em um grande ballet. É construir uma coreografia com elementos apresentados just in time. E o improviso é maravilhoso!
De quem é a conquista?
Como já disse, sou uma atleta por acidente.
Mas tenho verdadeira paixão por karate e apesar de estar um pouco afastada por causa da minha profissão, acompanho tudo, mesmo que à distância.
Semana passada tive duas gratas supresas embora não tão surpresas assim porque tudo era apenas um questão de tempo:
1ª – ROMIC – conseguiu credenciamento de referee pela WKF no mundial da Sérvia. Gente, vocês não tem noção da dificuldade que é isso. A pressão a qual todo árbitro é submetido nos exames teóricos e práticos. Se os atletas soubessem da missa a metade, talvez tivessem um pouco mais de respeito por esses abnegados cuja escolha é realmente um sacerdócio. Nem sei há quanto tempo o Romic está nessa vida, estudando sem descanso, bancando muitas vezes as viagens internacionais, deixando a familia, os amigos , os alunos, em busca de algo que talvez eu seja uma das poucas pessoas que compreenda a fundo.
ARBITRAR: Comandar um koto com a ajuda dos auxiliares sob a supervisão do chefe de quadra. Parece simples não?
Errado! O árbitro tem que ter domínio da situação, conhecer profundamente as regras, saber sinalizar e interpretar sinais. Ter convicção nos seus conhecimento e dicernimento ao tomar qualquer atitude. Ser imparcial, abstraindo nomes e rostos, visualizando apenas as cores das faixas. Tem que ter poder de decisão em fração de segundo, tem que ter voz dominante, transmitir segurança, ser um homem (mulher) honrado(a) e, sobretudo HAY QUE TENER MUCHA PERSONALIDAD !!!!
OSS! Romic! Você merece!
Esta foto é de uma seletiva de setembro de 2008. Na ocasião o Romic estava com conjuntivite e, mantendo distância de todos nós cumpriu seu papel de diretor técnico da CBK. Sentados no chão, os atletas. Inclusive Douglas Brose, de quem falarei a seguir. Que o Sr. Luiz perdoe a foto sem definição, que foi tirada com o celular bem antigo (ele também está na foto).
2ª – Douglas Brose – Campeão Mundial de sua categoria, também na Servia. Como todo atleta, com anos de dedicação, abdicando de prazeres que os pobres mortais jamais abririam mão. O fato é, que sacrifícios você fez para poder alcançar algo que poucos brasileiros conseguiram. Como diz o ditado popular: – Você vê as cachaças que eu tomo mas não vê os tombos que eu levo…
Acompanhei de perto um pouquinho da carreira vitoriosa desse menino que nasceu com uma estrela. Menino de sorriso fácil, comprometido com o que faz, ídolo de uma garotada que vem por aí. Claro que ele precisou polir incansavelmente essa estrela para tivesse brilho, até que o brilho apareceu. É interessante, como a notícia de sua vitória sobre o italiano porliferou rapidamente pelas redes sociais e quase foi possível ver os sorrisos daqueles que postavam algo a respeito. Todos partilhando sua conquista, todos com o coração um pouco mais verde amarelo. Todos querendo dizer: – Sou brasileiro e também sou karateca!
PARABÉNS, Douglas! Isso tudo é fruto do que você plantou… Que haja muitos frutos para colher!
Eu me pergunto: De quem é a conquista do Romic e do Douglas?
São conquistas que mostram duas faces de uma mesma paixão – o KARATE!
Mas essa conquista simboliza o esforço de muitas gerações dedicadas ao esporte e dessa maneira essa conquista é de todos nós. Os dois é que chegaram lá, mas sempre levaram com eles nossa admiração, nossa torcida, nosso respeito. Levaram com eles um pouquinho de nossos corações. Essa é a magia do esporte…
Em cada combate que o Romic arbitrava, a certeza de sua lisura. Em cada golpe do Douglas, socamos junto, chutamos junto. Nós sempre estivesmos com vocês..´.
Existe um sentimento novo no ar. Um sentimento que eu chamo de:
ORGULHO ALHEIO!
Obrigada a vocês dois!